Ainda me lembro: Entre Telas e Essências

Entre telas e essências: como a tecnologia molda nossas travessias internas Ainda me lembro quando as redes sociais estavam apenas começando, e entre MSN, Twitter e Formspring, o mundo parecia se expandir de maneira habitável. Daquela quantidade “contida” de trocas surgiam diálogos dentro da escola, nos grupos familiares e principalmente, nos devaneios (que carinhosamente hoje, dei-me o direito de assinar como “bevaneios”), que passavam a ter uma interpretação mais ampla da realidade. Naquela época, mesmo sendo uma adolescente curiosa e sonhadora, uma década depois eu não imaginava a quantidade de barreiras que seriam quebradas e pontes construídas para hoje, ter acesso à mais redes sociais que eu possa contabilizar na palma das mãos. É inquestionável que com o ilimitado acesso às plataformas, passamos enquanto seres humanos a muitas das vezes descentralizar o foco e a atenção, ativos inestimáveis em pleno séc. XXI, afinal, não seria possível absorver todo conhecimento da própria biblioteca de Alexandria, quiça de bits, vulgo pulsos de luz ou eletricidade. Todavia, ao aprendermos a utilizar estes avanços à favor do verdadeiro desenvolvimento, também abrimos portas que mais se parecem com portais, fonte de um despertar, marco e virada. Confesso que aqui, escrevendo esse texto, uma série de memórias são acionadas no percurso desta jornada, descobrindo uma nova plataforma como se aguçasse cada pequena lembrança e reorganizasse meu caminho interno. E percebo que, ao contrário do que acreditávamos na adolescência, quando a internet era quase um diário coletivo de novidades, hoje caminhamos por um território expandido, onde cada clique pode nos atravessar de formas muito mais profundas do que gostaríamos de admitir. Entre tantas telas, surgem também os espelhos: aquilo que projetamos, aquilo que evitamos, aquilo que buscamos secretamente ser. E é justamente neste ponto que a tecnologia deixa de ser apenas uma ferramenta e passa a ser um portal. Um convite para irmos além da estética das postagens e nos aproximarmos de algo mais essencial: quem estamos nos tornando enquanto navegamos por esses infinitos caminhos digitais. Porque antes, o que eram só essas portas em que abríamos, fechávamos, acessávamos, tornaram-se são portais inteiros: lugares simbólicos de travessia, onde entramos de um jeito e saímos de outro, onde a informação se mistura com existência, e onde a presença (quase sempre tão fragmentada) precisa ser cultivada como um ato de coragem. Escrever aqui, agora, é um exercício de retorno ao que me move desde aquela época: a necessidade de transformar vida em palavra, e palavra em entendimento. É recordar que, apesar de toda a imensidão digital, ainda somos feitos de interioridade, nuances e camadas. Ainda buscamos sentido. Ainda buscamos nós mesmos. E talvez seja isso que me encanta tanto nesse espaço: a possibilidade de unir passado e presente, tecnologia e sensibilidade, linguagem e alma, como uma ponte silenciosa & firme, dessas que não só conectam lugares, mas versões. Porque no fim, entre tantas janelas abertas, é sempre o mesmo desejo que permanece: o de não apenas existir on-line, mas habitar-se. Enfim, é muito instigante trazer â tona mais uma versão de quem me torno aqui, Que seja uma perene, leve e doce caminhada… Verdadeiramente, Bruna Bettini
Soft Life: Utopia ou Consciência?

A expressão soft life — ou seja, uma vida leve — tem ganhado cada vez mais espaço nas trends globais, especialmente em redes como o TikTok, conhecido por trazer meios de expressão mais crus, reais e cotidianos, com menos filtros e mais conexão. Esse conceito tem ecoado como um suspiro em meio à cultura da exaustão. A Geração Z tem sido uma das maiores impulsionadoras desse novo olhar. Um estilo de vida que preza pela leveza, pela presença, pela consciência e pelo prazer. Um respiro que acompanha o crescimento do universo wellness, que, em números, movimenta bilhões, atingindo diferentes públicos que, mesmo com realidades distintas, compartilham o desejo de desacelerar. Um anseio coletivo por espaços de respiro dentro de uma sociedade marcada pela superprodução, que por muito tempo ensinou que ser forte era resistir à dor, cuidar de todos ao redor e romantizar o desgaste — mesmo que isso custasse o próprio bem-estar. Mas afinal: é possível viver com leveza em um mundo que valoriza tanto a performance?Como ensinar o corpo a processar o cotidiano com mais inteireza e dignidade, sem negar os desafios que fazem parte da vida? Do ponto de vista da psicologia — e do meu também — é preciso reconhecer que a vida já traz pesos demais. E não, você não precisa carregar tudo o tempo inteiro. É possível escolher onde depositar sua energia, aprender a desacelerar em uma realidade onde tudo estimula a pressa. Vivemos em uma cultura que glorifica o desempenho, a comparação, os números, o reconhecimento externo — e com isso, adoece. Alimenta uma busca desenfreada por validação e produtividade, como se esgotamento fosse sinônimo de sucesso. Mas não é. Esse modelo só revela uma tentativa desesperada de se sentir suficiente. E é justamente por isso que o soft life surge como um contraponto — quase um pedido silencioso por equilíbrio, presença, permissão para existir com mais gentileza. Mas esse desejo por leveza não deveria ser um luxo. Deveria ser uma necessidade reconhecida.Claro que existem fases em que o trabalho e a intensidade são necessários. Mas viver em modo frenético de forma permanente não é sustentável. Se a sua rotina exige picos constantes de esforço, talvez o corpo continue, mas a alma fica pelo caminho. O Contraponto à Cultura da Exaustão Vivemos em uma sociedade que por muito tempo exaltou o “dar conta de tudo”.A performance virou sinônimo de valor. A resiliência virou quase um troféu. E o descanso… um prêmio que só vem depois da exaustão. Aprendemos a cuidar dos outros, mas raramente fomos ensinados a cuidar de nós. A cultura da superprodução normalizou a dor, a sobrecarga, o corpo tenso, a alma cansada — como se tudo isso fosse virtude. Mas a verdade é que a vida já abarca responsabilidades o suficiente. Não precisamos carregar tudo o tempo todo em uma mochila abastecida de sobrecargas. E mais: não deveríamos. Leveza é Ausência de Problemas? Não. A leveza verdadeira não é a ausência de conflitos, mas a presença de consciência. É sobre escolher, entre tantas demandas, o que realmente merece sua energia. É sobre aprender a pausar antes do colapso. É sobre fazer com propósito — não só com urgência. A psicologia ensina: não existe bem-estar sem intenção. A leveza é construída. E às vezes, dá trabalho. Mas vale a pena. Choques Geracionais e a Crítica do “Mimimi” Para muitas pessoas de gerações anteriores, o discurso do soft life soa estranho.“Essa nova geração é fraca”, “No meu tempo não tinha isso” — são frases recorrentes.Mas será que não tinha mesmo? Ou apenas não se nomeava o cansaço, a dor, o vazio? O que chamavam de “força” talvez fosse silêncio. O que parecia “virtude” muitas vezes era adoecimento emocional. A Geração Y, por exemplo, entrou no mercado sob a promessa do “empreendedorismo libertador” e explodiu em burnout. Agora, a Geração Z tenta não repetir o ciclo. Fala de limite, saúde mental, tempo de qualidade. Está dizendo, em outras palavras:“Não quero me perder para ser aceito. Não quero pagar o preço que meus pais pagaram.” Soft Life: Preguiça ou Posicionamento? É claro que, como todo movimento, há riscos. O soft life corre o perigo de virar mais uma estética vendida nas redes sociais: manhãs com chá, rotinas calmas, trabalho de 4 horas por dia, casa organizada em tons neutros — tudo isso embalado como “vida leve”. Mas quando esse ideal encontra a realidade de boletos, sobrecarga emocional e pouco tempo, a leveza parece uma utopia cruel. E o que era para aliviar, passa a cobrar. Passa a frustrar. Por isso é preciso fazer uma distinção: a leveza não pode virar performance. Não deve ser mais um padrão inalcançável. A leveza precisa ser posição interna, não estética externa. Então… é possível viver com leveza? Sim. Mas não da forma idealizada. Você pode trabalhar muito e ainda viver com presença.Pode ter momentos de esforço sem se abandonar no processo. Pode ter conforto e ainda assim estar esgotado. Ou ter pouco e ainda assim viver com abundância interna. A questão é: o que é sucesso para você?Talvez hoje sucesso seja passar o dia sem se criticar. Talvez seja dormir em paz. Talvez seja aprender a descansar sem culpa. Leveza é consciência. E consciência muda tudo. Viver com mais suavidade não é se isentar da realidade. É agir com mais intenção. É dizer não quando preciso. É aceitar ajuda. É perceber quando o corpo pede pausa. É entender que sua saúde não deve ser a última da fila. Com isso, o que aprendemos? É possivel fazer escolhas na vida e saber que você pode e deve construir seus próprios espaços de respiro, mesmo que seja um por vez. E que não precisa esperar a vida desmoronar para se autorizar a mudar, agir diferente, buscar uma caminhada mais alinhada com o que pulsa dentro do coração. A terapia pode ser uma aliada nesse caminho: para redefinir valores, curar excessos, olhar para os padrões herdados, ressignificar o que é sucesso, e compreender o que realmente importa. Porque no fim